quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A infâmia do capital

Peço desculpas ao pequeno porém seleto grupo de leitores deste blog pela ausência dos últimos meses. Acontece que manter um blog atualizado requer motivação de seu autor. E ela só voltou agora.
Não perco a capacidade de me indignar com a mentalidade mesquinha e medíocre de porta-vozes do capitalismo voraz que, bem ou mal, rege nossas vidas. Depois de cortar o IPI do setor automotivo, para reaquecer o mercado, e liberar bilhões a montadoras de veículos que amargaram queda nas vendas que, em percentual, chega a dois dígitos, o governo brasileiro criticou as empresas que receberam a ajuda estatal pelas demissões em massa anunciadas nesta semana. Concordo com Lula: se as empresas estão recebendo dinheiro do Estado (leia-se do povo), não devem demitir. Só resta saber se isso ficou claro a essas corporações como uma contrapartida.
Por sua vez, José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da famigerada GM, joga ao "mercado" o papel de termômetro da economia e a responsabilidade pelas mais de 700 demissões anunciadas no início da semana. Em rede nacional e com a cara lavada, ele afirmou que quem vai decidir se as vendas vão subir ou não e se vai haver mais demissões é o mercado. Em suma, na hora que precisa de ajuda, é ao Estado (novamente, leia-se aos cidadãos, para eles, consumidores) que as empresas recorrem, mas sobre as demissões, se vão ou não ocorrer, quem decide é o mercado. Uma lógica ideologicamente torta, conveniente e perversa.
Em tempo: é de se estranhar que corporações tão poderosas, com produções nada sustentáveis que cresceram 20%, 30% nos últimos anos que resultaram em lucros recordes, precisem de ajuda após três meses de crise. Essa é a ditadura do lucro. Em tempos de expansão, são essas corporações que se desdobram em discursos cada vez mais apelativos da publicidade para vender o que não precisamos. Mas quando o progresso virtual vira crise real, o ônus recai sobre nós, os "cidadãos".