quarta-feira, 4 de março de 2009

Persuasão covarde em nome do lucro

Acredito que, como tantas outras, a discussão sobre a proibição da propaganda dirigida a crianças no Brasil está ultrapassada. Em forma de projeto de lei que visa banir esse tipo de publicidade, o assunto tramita na Câmara dos Deputados e divide opiniões. A Comissão de Defesa do Consumidor aprovou o projeto de lei em 2008, mas a Comissão de Desenvolvimento Econômico, dado seu caráter e seus supostos interesses, é contra a proibição.
A publicidade é uma forma de comunicação persuasiva e, por tal natureza, deve ser direcionada apenas a quem tem senso crítico e capacidade de discernimento para digerir, aceitar ou rejeitar a mensagem que recebe. Caso contrário, trata-se de deslealdade e covardia. Portanto, uma criança de 3, 4, 5 anos de idade não deve ser alvo da publicidade pois não consegue discernir que tal mensagem está imbuída de interesses comerciais e visa exclusivamente o lucro. Isso me parece ponto pacífico.
Mais: a propaganda estimula o consumismo desenfreado que toma conta das mentes no atual modelo capitalista insustentável e, apesar da crise, ainda timidamente questionado. Se deixamos que o mercado se comunique livremente com nossas crianças, da forma que bem entende e com os propósitos que o convém, estamos dando o aval para que esse desejo incontrolável pelo supérfluo seja plantado nos primeiros anos de vida de futuros cidadãos. Em outras palavras, estamos deixando que a publicidade forme consumidores, pessoas materialistas, antes mesmo que eles aprendam os preceitos básicos da cidadania. Proibir a publicidade infantil, portanto, é um ato de educação.
Vamos ver quem ganhará essa queda de braço. Para quem leu nas entrelinhas das manchetes sobre o assunto, nas últimas semanas, o lobby do mundo corporativo já começa a mostrar suas garras nos bastidores. Curiosamente, em meio ao calor das discussões, os jornais anunciaram há duas semanas que o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) está mais rigoroso na fiscalização da propaganda apelativa direcionada às crianças: suspendeu 17 comerciais no ano passado, 10 a mais do que em 2007. Parece-me conveniente para a indústria que tal notícia tenha sido divulgada justamente quando um projeto de lei pela proibição tramita na Câmara. Será que alguém está querendo dizer que proibir não é necessário, já que a fiscalização está mais rigorosa?
Uma pena não haver mobilização popular neste país carente de vozes mais enfáticas.

3 comentários:

Camila Azevedo disse...

Oi!
Vou estrear meu primeiro comentário por aqui (acho que entrei para a tal seleta lista de leitores, né? hihi).
Ótima reflexão, isso me lembra algo engraçado. Enquanto o Conar não apóia a proibição da publicidade infantil, ele proíbe a imagem do Papai Noel bebendo um copão de Erdinger.
No Natal, lançamos uma newsletter dirigida aos e-mails de adultos apenas, com uma imagem mega fofa do barbudo entornando 500ml da loira alemã. Aí fomos notificados pelo Conar, porque não podemos usar o Papai Noel para tais fins. Papai Noel só pode beber Coca, acho.
Tudo bem, vai que alguma criança visse, né?
Parabéns pelo blog.

Camila Azevedo disse...

PS: postei no Twitter uahauhauh

Andrea Rifer disse...

Pois é Bru, na queda de braço entre o lobby do mundo corporativo e os interesses reais da população, infelizmente, acho que levamos muita desvantagem, pq enquanto eles se mexem, na maioria das vezes ficamos simplesmente assistindo a tudo.
Andrea Rifer
www.novecidades.blogspot.com